Estão culpando a pessoa errada, atacando o coronel Araújo. Ele tem feito um bom trabalho e não é o responsável pelo que ocorre no RN nos últimos dias. Os dados da segurança pública (homicídios, roubo etc) melhoraram de maneira insofismável durante o momento em que ele ocupa a pasta. Os investimentos, os salários e o efetivo policial cresceram. A crise vem da administração penitenciária.
Ora, os presídios contam com milhares de apenados, a grande maioria de baixa periculosidade. Eles têm um inegável nível de organização e pessoas aqui fora também. Se tratá-los feito bichos, uma hora a bomba estoura. Os presos aprenderam, a partir de crises anteriores, a chamar a atenção da sociedade e a pressionar governos. É uma realidade difícil de dizer. Porém, não é pelo fato dela não ser narrada, que ela vai parar de existir.
Caro leitor, o que mais você vai ouvir é verborragia nesse momento. A verdade é dura e não interessa a muita gente. Diria que a pouquíssimas. Daí que vai ter oportunista para falar alto, gritar que tem de sentar a borracha em bandido, um meio de arrefecer a raiva das pessoas amedrontadas e ganhar política e economicamente com a crise. Só que quem fala isto não quer resolver.
Também alegar que falta mais policial na rua é jogar para a torcida. Me fio sempre pelo realismo e o modus operandi dos criminosos é impossível de ser contido apenas com polícia na rua. Vai posicionar um policial em cada esquina do RN? Obviamente não é possível. Basta que os bandidos queimem 2 ou 4 ônibus e as correntes de whatsapp fazem o resto do serviço, amplificando o medo. Pronto. O pânico está instalado e os criminosos atingem o que querem – as pessoas em casa com medo (com razão).
Nenhum governo vai negociar com criminosos. E mesmo que aconteça, jamais irá expor. Só que o correto a fazer para debelar a crise, ao menos em um aspecto, é acabar com as torturas nas prisões e voltar a distribuir comida que não seja estragada, conforme vem sendo alegado pelos apenados. E os presos pararão. Isto é, não é fazer o jogo deles, mas cumprir a lei.
Caro leitor, todo presídio já tem contrato de fornecimento de alimentação e de remédios. Se está chegando estragada, é porque a empresa está recebendo, mas não fazendo sua parte. Tais empresas são muito fortes no estado. Preste atenção no noticiário – basta que o poder público atrase um dia para que no outro apareça na imprensa um monte de reclamação a respeito.
Repito, a base da crise é o sistema penitenciário e lá só terá o devido enfrentamento caso a lei seja efetivada. Esse modus operandi de chamar atenção da sociedade para o que ocorre nas cadeias, queimando ônibus para amedrontar, é antigo. Preso é para pagar por seu crime e não para ficar sendo torturado, com fome e doente sem remédio. Tenho certeza de que a governadora, até pela sua história, jamais iria compactuar com qualquer tipo de arbítrio e é a maior interessada no esclarecimento da situação.
Sim, corro o risco de ser acusado de defensor de bandido. Mas é o papo típico de quem não quer resolver o contexto, mas lucrar com ele, fazendo pose de durão ao mesmo tempo em que ganha audiência publicando conteúdo de facção (notas, vídeos, mensagens), algo que os manuais de jornalismo já mostraram que é errado porque é fazer assessoria de imprensa para o caos almejado pelos criminosos.
Repito, se tratá-los feito animais, acaba ocorrendo o que estamos assistindo. É jogo jogado.
